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27ª BIENAL DE SÃO PAULO
Author: Lisette Lagnado (2006)

Lisette Lagnado: “Quase-cinema”, de Hélio Oiticica, era uma crítica ao audiovisual. A que fatores você atribuiria a crescente presença do cinema na instituição artística que, até recentemente, colocava a fotografia em salas segregadas? 

 

Marcos Bonisson: Conheci o Hélio no Rio em 1979, depois que ele voltou de Nova York. Eu tinha 21 anos, freqüentava os cursos de arte do Parque Lage e fui convidado, junto com outros, a apresentar proposições para o Program in progress, idealizado por Hélio em espaços urbanos específicos: Kleemaniano Caju em 1979 e Esquenta pro carnaval no morro da Mangueira em 1980. Fiz filmes super-8 que se perderam e que reencontrei uma década depois. Alguns fragmentos foram inseridos em Héliophonia. Fui para Nova York em 1981 e fiquei por quase dez anos. Penso que de Man Ray/Duchamp a Jack Smith/Gordon Matta-Clark, diferentes artistas fizeram experiências com filmes, disseminando outros sentidos, independentemente do cinema industrial. O “Quase- cinema” de Hélio é um exemplo de um cinema-invenção convulsivo, que ultrapassa a crítica ao audiovisual. Quanto aos espaços institucionais, à parte de modismos, cabe a função objetiva de dar voz e abrigar a experimentação.

LL: A proposição das Cosmococas é ativar o outro. “Quase-cinema” é uma crítica ao audiovisual porque o espectador é um participante que não precisa ficar sentado, imóvel e quieto, além de enfatizar a não-narração. Você não acha que estamos vivendo um momento contrário, isto é, muito narrativo? 

 

MB: Isso que você diz de ativar o outro, como proposição nas Cosmococas, é muito interessante. Acredito que essa foi uma das idéias fundamentais na elaboração dos Bloco-experiências in Cosmococa, que falam diretamente ao corpo, daí o aspecto sensorial e o sentido do espectador-participante. Vito Acconci reafirma isso no filme, referindo-se aos Ninhos de HO, na exposição Information de 1970. Quando ele faz a passagem do plano para o espaço, o maior deslocamento foi o do corpo, não o da retina. A questão da não-narração no “Quase-cinema”, bem complexa, não é apenas uma recusa ao sentido temático, relacionado a um cinema narrativo-literário. Está profundamente ligada a uma reflexão acerca do absurdo da linguagem. Podemos estar vivendo um momento narrativo, possivelmente como uma reação desesperada a um estado de incertezas, sei lá… Continuo interessado nas linguagens não-narrativas e no que é imanente. No meu filme Héliophonia, a idéia é apresentar o artista por ele mesmo, sem mediações, reunindo alguns de seus filmes inéditos feitos na época e utilizando pontualmente a fala-performance, verve de HO.

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Héliophonia 2002 vídeo 17 min

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